Quando lemos comentários avulsos nas redes sociais ou nos principais portais de notícias que cobrem a política nacional não demoramos muito pra entender que o tempo de amadurecimento da nossa democracia não foi profícuo para o aperfeiçoamento opinativo da maioria dos eleitores que compõem o nosso país. A sensação que paira diante das observações é que, dificilmente, a curto prazo, estaremos preparados para tratar dos nossos calamitosos problemas por meio de leituras acuradas e cabíveis aos mesmos, no sentido oposto ao que se produz de extremismos hermenêuticos suficientes à produção de mais problemas do que soluções.
Ou você está aqui ou você está lá. Ou você está lá ou você está aqui. Não se pode estar aqui e lá de maneira crítica no escrutínio amplo das causas, das problemáticas e questões, das consequências de determinado objeto, sob o risco de ser pechado como indeciso, volúvel ou até mesmo interesseiro. Só não soa reticente, equilibrado... A própria significação do termo equilíbrio parece ter se deslocado do seu sentido original da língua portuguesa ou da moral praticada no Ocidente. De uma denotação explicitamente ligada à estabilidade emocional, vemos um outra percepção surgir: a que investe o indivíduo de qualidades duvidosas, tal como algum tipo de esperteza fugitiva da realidade. Da realidade de quem vê. E por mencionar a paixão, lembremos da dicotomia paixão versus razão. Ao cobrarmos teores opinativos mais refinados e responsáveis não podemos cair na mesma teoria colocada em suspeição. Aquela que diz que quando você está aqui, talvez apenas a razão esteja aqui. Ou quando você está lá, talvez apenas a paixão esteja com você. Ou o inversamente oposto.
As facções estão armadas até os dentes. Armadas com cartuchos de ignorância histórico-filosófica inclusive. Estabelecer a verdade dos fatos não se constitui por elas um processo de análise da própria verdade, mas um processo de deslegitimação da verdade mal construída do outro. E se essa for a conta da equação, já sabemos que o resultado, além de inutilmente infinito, é ineficaz na produção de conhecimento sobre nossas crises de ser. De ser povo, de ser país. Ou é o mundo midiático podre ou é o santo imaculado e flagelado injustamente. Ou são os bons resultados que tivemos no passado ou são as desgraças do agora, soerguidos pelos mesmos autores. Ou é a apatia popular às aparições públicas e democráticas ou é a crítica pormenorizadora das mesmas aparições mal sucedidas. Nunca as duas coisas ao mesmo tempo. Isso reverbera uma suposta incoerência do pensar, um suposto recuo do agir. Sempre o minimalismo, o binarismo.
Não sopesamos a razão e a paixão na balança manual do nosso proceder ante os dilemas políticos que temos. Escolhemos, na maioria das vezes, apenas uma delas para lutar pelos nossos ideais. O brasileiro tende ultimamente a optar mais pela paixão do que a razão na hora de observar e elucubrar seu derredor e, mesmo que optasse pela razão não poderia nem deveria interromper-se do investimento da paixão ou das paixões, pois somos humanos racionais e ao mesmo tempo sensíveis. Precisamos de parcimônia na lida com as crises gigantes que enfrentamos na política e na economia, pois não menor é a crise ocular que temos para definir astutamente aquilo que enfrentamos e aquilo que podemos resolver no necessário enfrentamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário