Desde já parabenizo minha cidade pelos seus 55 anos de emancipação política, sempre no firme desejo de amplos crescimentos macroestruturais, sejam eles da economia industrial à agrícola, sejam eles na organicidade política dos representantes administrativos aos eleitores. Que a contemporaneidade de Itatuba seja apenas a vertente de um futuro que conduzirá este solo à prosperidade social daqueles que aqui nascerem e residirem.
Itatuba é uma cidade diminuta no seu território e na sua população, assim como apresenta-se a grande maioria das cidades interioranas do nosso estado, porém os parâmetros limítrofes do seu pequeno tamanho são apenas esses, primordialmente quando nos debruçarmos historicamente, culturalmente no primado do qualitativo sobre o quantitativo. Bons predicados, virtudes de um espaço de riquezas acessíveis aos olhos sensíveis. Até rimou. Mas, realmente, é a percepção investida de sensibilidades que nos promulga o conhecimento daquilo que é, mesmo que aparentemente, aprioristicamente não pareça ser.
E o que é? Ou o que vem a ser? É o seu povo escrutinado pelo citado primado do qualitativo! Um povo que produz cultura no momento que costura as atividades diuturnas, carregadas com o árduo peso da dificuldade da realização. Atividades que movimentam desde o círculo fraterno restritivo até os quadros econômicos coletivos. Assim como bate em uma pedra de calçamento, o trabalhador que caminha pela estrada que o conduz ao seu almoço, batendo pernas acompanhado dos seus camaradas, também produz aquelas histórias que, por mais que o tempo avance e tente consumi-las, decerto permanecem vivas pela oralidade dita nas noites de reunião familiar.
É assim que as memórias se produzem e se processam ao longo dos anos, atravessando os silenciamentos e distanciamentos que tentam recortá-las e desagregá-las do seu sentido original, sejam tais memórias apenas doces palavras do pai ou da mãe que as conta ao filho atento ou aquelas memórias que se inscrevem na matéria modelada pelo povo que não quer ser adormecido eternamente pelo signo da morte física. A mesma matéria inorgânica que compõe uma antiga e simplória moradia ou um extraordinário “lugar de memória” onde muitos que ali conversaram, ou trocaram olhares apaixonados, ou apenas se divertiram na observância das peculiaridades estéticas humanas, claramente puderam deixar uma porção da sua existência social como força vivificadora da matéria inorgânica que ganha vida e torna-se algo patrimonial.
Tempos difíceis eram os tempos do passado não tão longínquo da nossa terra, quando estancamo-nos num olhar fluído e inerte à apreciação da vida em tempos de vacas magras e pouco pão, todavia tempos bons eram aqueles onde se vivia o pouco que se tinha com intensidade e ao mesmo tempo valorização das palavras ditas e dos locais de encontro de transeuntes. Tempos difíceis são os tempos do presente que, supostamente bons pelos investimentos das facilitações do hábito e do pensar, censuram desde as mais novas crianças do seu crescimento individual e coletivo. Fazem-nas esquecer das coisas simples que a vida nos proporciona, como a palavra sábia do pai ou da mãe que a quer bem, ou da sua identidade lapidada pelo contato com aqueles que também precisam crescer por meio deste processo de troca de experiências necessárias à vida.
A criança nasce, debuta no âmbito social ainda jovem, cresce mais uns palmos de altura, todavia se petrifica na debilidade da sensibilidade daquilo que é detectável, palpável pela mesma. O patrimônio de um povo, seja ele material ou não, precisa ser lido não apenas por acadêmicos produtores de material científico, precisa ser sentida primordialmente por aqueles que a detém. Sem essa premissa não haverá continuidade da força das memórias, das conversas alongadas, das paredes dos “lugares de memórias”, tantas vezes e indevidamente chamadas apenas de velhas, pois as suas permanências coadunam-se ao trato sensível de quem delas são donos. Caso esse trato sensível não exista, o presente torna-se uma grande e devastadora borracha e o passado um moribundo irrecuperável que apenas tende a falecer para a eternidade.
Não é porventura esse o nosso cenário social atual? Infelizmente não é assim que nós, enquanto filhos de Itatuba, temos tratado nossas conversas e nossas paredes? Não é o comportamento inerte da nossa existência frágil e vazia que tem contribuído para o desfazimento das nossas memórias, do nosso patrimônio? Reflitamos. Reflitamos para que o futuro, que sequer é objeto de estudo de um historiador ou qualquer profissional da ciência, não seja mais deficiente em termos socioculturais do que agora. Que o agora apenas siga o rumo do desejo das primeiras linhas! Mais uma vez, parabéns, Itatuba.
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