Vivemos um momento de radicalizações do falar e do digitar. Talvez mais do digitar do que do falar, já que os diálogos ostensivos e produtivos entre pessoas têm se tornado cada vez mais fortuitos, principalmente pela substituição da verbalização pelos caracteres diminutos do universo www. Sabemos disso e fazemos parte disso. Cada vez mais optamos por construir pensamentos monossilábicos e não comprometidos com a realidade sensível, porém que servem como exaustores para as nossas incompreensões cotidianas. Delas surgem o ímpeto de, ao não estabelecermos sólido entendimento sobre algo, demarcarmos território com menos ausência de bom senso e mais disposição aos extremismos.
É perceptível, inclusive, um amplo deslocamento naquilo que se constitui a ideia de verdade, pois se esta já não mais é fixa ou linear, agora tende a tornar-se desprezível diante de uma simples exposição. Não importa o teor de uma reportagem escrita, de um vídeo ilustrativo de determinada situação, não importa a confiabilidade do material que se encontra diante dos nossos olhos, se tal conteúdo visualizado estiver agindo no acionamento das respostas curtas e rasas que nossas angústias produzidas pelo presente necessitam.
E quando não colocamos o estabelecimento ou a reposição da verdade durante qualquer discussão sobre qualquer área de saber, não mais estamos dispostos a praticar a busca pelo factual. Perdemos o interesse nele e estamos em busca da modelagem continua de um complexo de perfectibilidade do nosso ideário. Esquecemos que qualquer ideário, inclusive aquele que está internalizado em nós nunca se constituirá integral, pois o próprio traço humano que nos compõe implica em fragilidades de execução.
Os impactos das redes sociais, das suas utilizações e dos mecanismos tecnológicos que as cercam, tendem nos últimos anos a se reverterem em comportamentos individuais e coletivos dignos de análise psicológica franca e contundente. Formaram-se e continuam se formando redes de dependência aceleradas entre faculdades antes físicas, de relacionamento íntimo do individuo e a promessa de substituição das mesmas pelo universo dos pixels e dos comandos touch. Promessa que além de gerar expectativas entre as pessoas, conseguem alterar de maneira significativa seus hábitos mais triviais, tais como posicionamentos ante questões de grande impacto para a sociedade ou até mesmo, em termos sentimentais, os procedimentos tomados diante de tragédias ou situações delicadas.
A tela e o toque tem dado terreno para deficiência da análise profunda e para o soerguimento das expressões imediatistas e pesadas do ponto de vista da opinião. A página ou as páginas estão sendo substituídas apenas pelo enunciado, a figura do intelectual de propriedade teórica notável tende a ter a sua importância diminuída e substituída pelos gurus de notório desserviço, o abraço se deixou vencer pelo emoji, assim como a verdade deixa solenemente de ser importante ao a compararmos com os desejos de aparição e exaltação da opinião muitas vezes infundada e raivosa. Que tempos...
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