O quadro tenebroso da política brasileira desde inícios de 2015 assusta
pela turbidez das suas líquidas e malcheirosas águas. Desde que se iniciaram as
discussões sobre o impeachment pelos nossos poderes e pela nossa população, o
que percebemos foi a sumária deficiência de maturidade de um país que ainda tem
dificuldades para se manter ereto.
No nível das instituições públicas as ações e reações acerca do
impedimento tenderam a se efetivar muito mais pelos personalismos e
ingerências, do que pela ordem jurídica e política balizada pela ética. Os
poderes atravessaram-se com flechas invasivas que sangraram as suas vidas
independentes e perderam a capacidade de diálogo e civilidade mínima, tendo em
vista que não é pouco um presidente da Câmara dos Deputados, por mais crápula
que possa ser, ser retirado do cargo pelo Judiciário após ser ator principal da
retirada de uma presidente da República perdida, assim como o presidente
interino da Câmara dos Deputados, numa decisão imatura, querer sujeitar o
Senado e o STF a uma caneta de tinta fraca e limitada com menos de um dia de
validade, dentre outras perfurações institucionais de menor gravidade.
No nível da sociedade não há muita diferença naquilo que tange as
criancices. Nossas sempre criancices. Aquelas que se fazem presentes desde as
apatias às paixões que ocasionam cegueiras individuais e conjuntas. O que são
pedaladas fiscais? Não sabemos. O que são operações de crédito? Sem chance. O
que configura um crime de responsabilidade fiscal? Também não. Talvez no máximo
aprendemos o que o vocábulo impeachment significa na prática. Há vinte e poucos
anos ninguém mais utilizava essa palavra. Ou seja, pouco sabemos do âmago do
processo, mas muito queremos opinar sobre, qualificar alguns, desqualificar
outros. Falta envolvimento maciço para tornarmos nossa participação política
eficiente e produtora de transformações dos males que temos para combater.
Quanto às paixões que temos, certamente nos prejudicam enquanto nação.
Produzem torcidas de perdedores. Espetáculos de baixa qualidade que insistem em
nos dar divertimentos torpes no exato momento em que sofrimentos e mortes acontecem
diante dos nossos ombros resvalantes, não obstante às nossas preocupações
seletivas em detrimento do real. É que nós, humanos, criamos o vetor ideologia para
que nossa existência não fosse apenas como a dos “nossos” animais de estimação
e usos. Aqueles que mais aceitam naturalmente nossas carícias e atribuições do
que as questionam e selecionam através de juízo de valor. O problema talvez é
que as nossas criadas ideologias gostam de invadir espaços que não a pertencem.
Tal como o espaço do bom senso.
O espaço Brasil, geográfico,
apinhado de instituições e pessoas, carregado de personalidades e de ideologias
não maturadas, contribui para as contradições, os paradoxos, as chacotas que
fazem nossa imagem perante a comunidade global ser a de mais uma Republiqueta
Sul-americana que ainda é adolescente. Carregada de dúvidas e incertezas que a
faz errar e pecar constantemente, num movimento de constrangimento dos
familiares mais velhos que moram em outro continente e acompanham suas
intempestividades pelos meios de comunicação. Que riem da sua face diante do
seu choro ineficaz. Falta e ela, a adolescente Republiqueta, ajeitar-se aos
trancos e barrancos. Sem muita perspectiva de melhorias.
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