sexta-feira, 8 de abril de 2016

ENTRE AS MULTITAREFAS DO XXI E A BUSCA PELA FELICIDADE

Há alguns dias mencionava aos alunos da 3ª Série do Ensino Médio as dificuldades acrescidas que temos nos dias de hoje em encontrar caminhos francos para uma felicidade desimpedida e honesta para com a existência simples. Algo intangível para o século dos instantes repetidos e inócuos... Lembrei das linhas gerais do pensamento epicurista. O filósofo ateniense do IV antes da nossa era nos diz que o alcance da felicidade não está tão distante do nosso poderio de atitudes e ações, pois bastaria nos livrarmos dos temores inúteis, das ideias falsas, dos erros e dos desvios que cometemos ao sabor do pouco tempo que temos para chegarmos até ela. Ao realizar tais exercícios estaríamos aptos ao viver simples e feliz.

Epicuro não conheceu o XXI para nadar nos seus rios impuros de vorazes patologias consumidoras. São tempos de liquidez, como acentua Bauman, mas uma liquidez fétida que nos fazem em constantes oportunidades viver uma não vida ao sabor do abandono dos prazeres mais puros, como uma alimentação relaxada ou um contato presencial com os nossos prezados. A doença do XXI é a ausência da presença de nós mesmos nas nossas vidas, é a tentativa frustrante de estabelecer linhas de fuga para os conturbados problemas e volumosas tarefas que empilhamos sobre as nossas mentes nas respostas da não vida, na negação do simples que não se impõe sobre o complexo.
Quando estamos inseridos num macro funcional que exige de nós aquilo que o sustenta e não o nosso bem-estar, deixamos de viver em função de nós mesmos e passamos a obedecer as suas violências. Ninguém consegue realizar uma tarefa corriqueira sem sofrer as coerções das demais quem batem à porta em busca de execução imediata. E na competitividade social que temos hoje quem não as deixa entrar perece esmagado por todos os que já estão naturalizados na lógica do sucesso pelo esforço. Aquela que tende a superar os ditos fracos por meio da agilidade coligada ao humano sentimento de egoísmo.
É a partir daí que nos deparamos com o momento de decidirmos que tipo de indivíduo seremos. Aquele que é o próprio macro funcional em síntese, agindo como peça em movimentos cíclicos e desgastantes, ou aquele que decide desfrutar do ideal de felicidade grego centrado na figura de Epicuro, que estabelece limites para si mesmo e utiliza esses mesmo limites ao seu favor no jogo da vida, estabelece na trivialidade dos seus atos a busca pela jornada feliz, porém sancionado pelo macro funcional que o vê como peça defeituosa e necessitada de reparo.
Há pouca margem para dúvidas sobre qual dos dois tipos individuais andam predominando nas ruas, nas moradias, nos ambientes de trabalho. Ele e atarefado, ele é apressado, ele é combustível para a perpetuação de um pesadelo para a busca pela felicidade e, também um contribuinte adimplente para com o soterramento constante dos saciamentos que verdadeiramente serão lembrados no momento em que percebemos o que é vida e o que é não vida.

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