sábado, 2 de abril de 2016

AH, O CONHECIMENTO...

Havia um garotinho que assistia muita TV e prestava muita atenção naquilo que via na internet. O garotinho foi crescendo e começou a fazer diversas coisas, como procurar extraterrestres na superfície da Lua com o seu telescópio, já que ele acreditava que seres de locais mais afastados chegaram lá antes de nós humanos. Faltava-lhe a compreensão de que, realmente, o homem chegou um dia à Lua e fincou uma bandeira na sua superfície quando viajou numa missão tripulada ao espaço. O garotinho não tinha ciência do que foi a Apolo 11...
           Sabiam que ele pensa que o mundo está pior do que o passado em termos de violência humana e fatores ambientais? Pois é, o garotinho não gostava muito de frequentar a escola ou mergulhar num bom livro de não-ficção, portanto era muito apegado às fantasias interessadas que se construíam na sua mente e nas coisas do agora, do instante. Por exemplo, ele não sabia que no passado grandes nações já se levantaram entre si, ocasionando a morte de centenas de milhares de vidas, ou que doenças pandêmicas já mataram mais pessoas do que a população do Brasil, no mínimo multiplicada dez vezes, ou também que secas e fomes devastadoras tolheram os sonhos de inúmeras pequenas crianças que não puderam realizá-los. O garotinho nunca teve a oportunidade de estudar a Antiguidade e, para ele, no máximo, o termo significa algo como o tempo que os avós dele viveram.
O garotinho acredita que fenômenos estranhos acontecem recorrentemente no seu planeta, amedrontando-o e fazendo-o não ter forças para buscar as devidas respostas para os mesmos. Para ele, o mar está vermelho de sangue, ou os terremotos aumentam a cada ano no Oriente, ou alguns animais nascem com rostos humanos pelo torpor de uma força fantástica que nos observa, julga e condena a todo instante.  Ele não possui outras explicações para os eventos mencionados, porque a ausência de conhecimento biológico o impede de saber o que é uma alga Rhodophyta, ou porque não detém noções mínimas sobre a formação e a organização geológica do nosso planeta, para saber que no passado ele era bem mais turbulento e incapaz de comportar a existência da vida, ou porque a má formação de organismos vivos resulta de falhas genéticas não tão anormais.
E assim o garotinho viveu grande parte da sua vida, sob as garras do medo e da superstição, sem sequer tentar retirá-las do seu meio. Até que num determinado ponto da sua existência, sem a ajuda de segundos ou terceiros, ousou perguntar algo, ou ousou contrariar algo, ouso buscar algo. Por ele, apenas por ele, não mais se satisfez com as certezas confortáveis que em sua direção vinham frequentemente. Observou a realidade e criticou-a, a procura de novos saberes que, mesmo não sendo atraentes, lhe davam respostas mais preocupadas com o factual do que com o seu bem estar.
Tudo que o garotinho dizia saber, em termos concretos ele não sabia, pois ele simplesmente pensava saber. Saber é muito mais do que julgar a partir de nós mesmos ou daquilo que projetamos no sentido de lançar à tona uma verdade. Saber é muito mais do que um abraço forte nas nossas mais doces fantasias e desejos pessoais diante da vida. Saber é muito mais do que acreditar, pois para acreditar não é preciso muita coisa. Basta apenas a vontade como desejo e a realização como meta para que tenhamos a receita do não-pensar e da negação do instinto primeiro da espécie: que é a descoberta. Saber é observar a realidade tomando distancia da mesma, num trabalho constante de questionamento e incompletude, balizado pela dúvida que nos faz refletir sobre o desconhecido, em busca do conhecimento.

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