Havia um garotinho que assistia muita TV e prestava muita atenção
naquilo que via na internet. O garotinho foi crescendo e começou a fazer
diversas coisas, como procurar extraterrestres na superfície da Lua com o seu
telescópio, já que ele acreditava que seres de locais mais afastados chegaram
lá antes de nós humanos. Faltava-lhe a compreensão de que, realmente, o homem chegou
um dia à Lua e fincou uma bandeira na sua superfície quando viajou numa missão
tripulada ao espaço. O garotinho não tinha ciência do que foi a Apolo 11...
Sabiam que ele pensa que o mundo está pior do que o passado em termos
de violência humana e fatores ambientais? Pois é, o garotinho não gostava muito
de frequentar a escola ou mergulhar num bom livro de não-ficção, portanto era
muito apegado às fantasias interessadas que se construíam na sua mente e nas
coisas do agora, do instante. Por exemplo, ele não sabia que no passado grandes
nações já se levantaram entre si, ocasionando a morte de centenas de milhares de
vidas, ou que doenças pandêmicas já mataram mais pessoas do que a população do
Brasil, no mínimo multiplicada dez vezes, ou também que secas e fomes
devastadoras tolheram os sonhos de inúmeras pequenas crianças que não puderam
realizá-los. O garotinho nunca teve a oportunidade de estudar a Antiguidade e,
para ele, no máximo, o termo significa algo como o tempo que os avós dele
viveram.
O garotinho acredita que fenômenos estranhos acontecem recorrentemente
no seu planeta, amedrontando-o e fazendo-o não ter forças para buscar as
devidas respostas para os mesmos. Para ele, o mar está vermelho de sangue, ou
os terremotos aumentam a cada ano no Oriente, ou alguns animais nascem com
rostos humanos pelo torpor de uma força fantástica que nos observa, julga e
condena a todo instante. Ele não possui
outras explicações para os eventos mencionados, porque a ausência de
conhecimento biológico o impede de saber o que é uma alga Rhodophyta, ou porque
não detém noções mínimas sobre a formação e a organização geológica do nosso
planeta, para saber que no passado ele era bem mais turbulento e incapaz de
comportar a existência da vida, ou porque a má formação de organismos vivos
resulta de falhas genéticas não tão anormais.
E assim o garotinho viveu grande parte da sua vida, sob as garras do
medo e da superstição, sem sequer tentar retirá-las do seu meio. Até que num
determinado ponto da sua existência, sem a ajuda de segundos ou terceiros,
ousou perguntar algo, ou ousou contrariar algo, ouso buscar algo. Por ele,
apenas por ele, não mais se satisfez com as certezas confortáveis que em sua
direção vinham frequentemente. Observou a realidade e criticou-a, a procura de
novos saberes que, mesmo não sendo atraentes, lhe davam respostas mais
preocupadas com o factual do que com o seu bem estar.
Tudo que o garotinho dizia saber, em termos concretos ele não sabia,
pois ele simplesmente pensava saber. Saber é muito mais do que julgar a partir
de nós mesmos ou daquilo que projetamos no sentido de lançar à tona uma
verdade. Saber é muito mais do que um abraço forte nas nossas mais doces
fantasias e desejos pessoais diante da vida. Saber é muito mais do que
acreditar, pois para acreditar não é preciso muita coisa. Basta apenas a
vontade como desejo e a realização como meta para que tenhamos a receita do não-pensar
e da negação do instinto primeiro da espécie: que é a descoberta. Saber é
observar a realidade tomando distancia da mesma, num trabalho constante de questionamento
e incompletude, balizado pela dúvida que nos faz refletir sobre o desconhecido,
em busca do conhecimento.
Palmas...
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