Antes de ser mais um observador da política brasileira, também sou um
dos eleitores que declararam a sua preferência nas urnas em 2014. Um trecho de
um dos jingles de Aécio Neves dizia: “Quem tá querendo crescer? Quem tá
querendo mudar? Quem quer um país melhor, funcionando, vem também, vem cá!” Ao
ler esse fragmento, pude entender qual a motivação que me fez votar no seu
projeto de governo. Eu queria mudanças. Mudanças que partissem de uma facção
política com certo teor de afastamento das práticas administrativas do atual
modelo governativo federal, pois a previsibilidade para alterações de gestão
emergidas no próprio governo chegou a nulidade, segundo a minha percepção. Não
dava mais para acreditar nas hostes petistas e seus discursos esvaziados.
Não me lembro de ter erguido um pedestal para colocar Aécio em cima,
tampouco ter sonegado seus erros e fragilidades na carreira política. Lembro de
ter tido muitas dúvidas a respeito das suas competências para assumir a direção
do país, assim como sobre as práticas pregressas do PSDB no período em que
esteve à frente do Planalto. Só que os espinhos não foram tudo na hora da
decisão. Poderiam ter sido para aqueles que, pela tônica dos seus discursos,
têm objetivos bem explícitos a defender, mas para aqueles que têm por
finalidade primeira das suas análises políticas depurar diferentes
posicionamentos e ideias, tomar um partido político como totalmente bom e algum
outro como totalmente ruim é muito pouco.
Apesar de serem iguais na essência, tal como eu defendi em outro texto
meu, PT e PSDB, tendo em vista que são as duas maiores forças partidárias
nacionais, precisam de revezamento constante para não apodrecerem por completo
na hora em que estão suspensos pelo poder. Chega uma hora que o revezamento se
faz necessário, antes que a podridão se torne tão metastática que acometa o
Brasil no seu ponto mais importante: o seu povo. Quando o povo sente as dores,
é evidente que diagnóstico é grave e de difícil cura.
Esse diagnóstico, que pode ser avaliado por cada um dos mais de
duzentos milhões de brasileiros, não poderia ser previsto ao assistirmos todos
os guias eleitorais petistas do segundo turno das últimas eleições. O chavão
maior do PT foi demonizar o PSDB e tornar hermética toda e qualquer medida
impopular que fosse tomada a partir de 2015 pelo governo, pois, pelo contrário,
a ideia era jogar tudo isso para os planos peessedebistas. Enquanto estratégia
de campanha o êxito foi total, pois a população acreditou e Dilma se reelegeu.
Nos termos de hoje, grande parte se enganou, diga-se de passagem.
Nesse sentido, duas perguntas podem ser feitas: Teria Dilma sido
reeleita caso a população soubesse das medidas que seriam adotadas pelo governo
no início do seu segundo mandato? E na hipótese de uma vitória tucana em 2014:
Estaria Aécio tomando as mesmas atitudes de gestão antes as dificuldades
econômicas previstas para o Brasil em 2015? A primeira pergunta é mais difícil
de responder, pois há uma série de outros fatores de ordem social que
implicariam efetivamente na resposta. Já a segunda tem a sua resposta mais
fácil de ser traçada.
O quadro econômico brasileiro para o corrente ano não seria animador
para qualquer governo que assumisse as suas rédeas. Algo notório na boca dos
mais renomados economistas brasileiros. Medidas e correções impopulares teriam
que ser tomadas ao sabor da opinião pública e, talvez, a enxurrada de críticas
não tão construtivas dirigidas à presidente Dilma Rousseff estivesse sendo direcionada
ao senador Aécio, caso tivesse sido eleito. Mas a questão é que temos dois
olhares diferentes sobre o mesmo objeto, ou seja, duas maneiras diferenciadas
de ação na seara econômica nacional.
A política econômica petista beira o caos, ou o desastre. O rumo foi
perdido, as premissas de ação são elaboradas ao andar dos bois pelo pasto e a
população agora paga na própria pele a ineficiência do governo na resolução
desse conflituoso empasse. Deixemos tabelas e gráficos do macro para os
especialistas e passemos a observar aquilo que conosco acontece. Juros
exorbitantes em se tratando de negociações bancárias, impostos desconcertantes
na alimentação, no setor de combustíveis. Crise no setor de energético,
acarretada pelo mal planejamento federal em termos de geração e distribuição de
eletricidade e que, aos olhos petistas, pode ser resolvida a partir de um
aumento de quase 40% na conta de luz das donas de casa. Enfim, quando a
incompetência assola os alicerces do planejamento fiscal, bom trato com a coisa
pública pode ser suplantado por um “pacote de maldades” despejadas para a
população.
Sob a minha ótica, o que faria o projeto governativo peessedebista ser
diferente, na seara econômica, seria a alternância de olhares. O outro olhar
mencionado anteriormente, que, mesmo incidindo sobre o mesmo objeto, traria
resultados diferentes. A equipe montada a partir da chefia de Armínio Fraga
teria plenas condições de impor uma nova estruturação para o cenário econômico
brasileiro, todavia, nunca esquecendo de mencionar, não foi o que o brasileiro
quis nas urnas. A campanha lamacenta petista impediu que se projetasse na visão
dos mais desavisados politicamente qualquer tipo de alternativa viável à sua
maneira de agir. Quanto ao preço, ele está sendo pago antes do término do
primeiro mês de mandato da tímida presidente que elegemos, ou melhor, que mais
de metade dos brasileiros elegeu. E eu não fiz parte desse grupo, deixando
claro mais uma vez.
Se eu pudesse reduzir o complexo resultado do último pleito a um erro
ou acerto da população brasileira, diria eu que o Brasil errou ao reeleger
Dilma Rousseff. Teve, batendo na porta, um vislumbre de mudança, mas o negou
devido ao momento. Optou pela continuidade de um projeto que pode nos levar à
recessão financeira, como nos mostrou a revista golpista Carta Capital essa
semana. O PIG agora tem um membro de esquerda.
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