O processo eleitoral ou campanha eleitoral tem sim prazo de
validade. E ainda bem que tem, pois quando nos debruçamos analiticamente sobre
o mesmo em uma cidade pequena, tal como a nossa Cachoeira de Cebolas,
percebemos que as más interpretações e os vícios que o estruturam tendem a
perpetuar determinadas práticas e comportamentos altamente ruidosos e
desnecessários.
No que diz respeito à política, e desde já temos que
entendê-la com uma prática sistematizada de governo, que incide em ações
desenvolvidas para o uso da coletividade, por meio de representantes
legitimamente eleitos para os seus respectivos cargos de atuação, essa sim não
passa. Aliás, nunca passa, pois do contrário incorreríamos na chamada “anomia”,
conceito este que exprime a ideia de desorganização social efetivada a partir
da ausência de leis ou modelos de gestão. Seriamos nós capazes de organizarmos
o coletivo estrutural da sociedade que temos por meio da tese do não-governo? Para
Bakunin ou Proudhon sim, defensores de estruturada, farta e metódica tese
anárquica. Mas vamos ao que interessa: Porque a política não passa e as
amizades as vezes sim?
A política não passa porque é uma constante. É um método de atuação dotado de
características próprias e que regula a nossa sociedade em diferentes vertentes
de consumo. É a política que traduz o sentimento do coletivo em estratégias e
ações que serão mais tarde depositadas para uso de todos, conferindo a
determinados indivíduos o poder da ação de governo e a outros a capacidade de apropriação
das citadas estratégias e ações através do estatuto de governados.
A política é abrangente. Ela incide mesmo naqueles que se
dizem “apolíticos”, termo este que se investe de enorme materialidade
paradoxal, tendo em vista que o próprio ato de se intitular como apolítico, por
si só já se configura como um ato político. Não há como escapar da política
porque ela nos cerca com a sua rede de micro receptações e micro atuações que
cada um de nós, enquanto seres sociais, desempenhamos no tecido da existência. A
política é também atemporal, diga-se de passagem. Ela não possui prazo de
término, levando em consideração sua capacidade de adaptação a diferentes
contextos históricos de gestão.
No que diz respeito às amizades ou aos afetos parentais,
porque os mesmos, ou alguns deles não resistiriam ao processo eleitoral? Qual a
relação circunscrita em tal ideia?
Podemos iniciar a defesa de tal pensamento observando aquilo
que antes foi mencionado: más interpretações gestadas sobre o que é o processo
eleitoral e sobre o que é a política. Termos que denotam significados
diferentes, mesmo com relações de proximidade. É nítido que não podemos cair na
sedução generalista de considerar toda ou qualquer pessoa que ainda não entende
essa distinção conceitual como alguém que age em prejuízo do outro, pois, a
título de obviedade, existem aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de
saber sobre o tema, para, por conseguinte, proceder existencialmente de maneira
adequada perante o período em exame e perante pessoas que os rodeiam.
Mas há um grupo em específico: os que agem pelo fio condutor
das velhas práticas de politicalha que, quando verticalizadas, produzem no
eleitor mais sentimentos torpes e desconexos do que uma prudência de atuação no
campo político. Estes, muitas vezes extrapolam o limite da complacência e da
cordialidade que por eles pode ser dada, por não enxergarem as coisas tais como
elas são ou a realidade tal como ela é. Usam da verdade subjetiva, necessária
inclusive a qualquer confronto de ideias, para a extorsão da tranquilidade
alheia. Entre xingamentos e conceituações pejorativas, atos de omissão e
hipocrisia acentuada, bem como alguns traços de interesses puramente pessoais,
tais indivíduos em muito pouco contribuem para a saúde social de qualquer
localidade e, consequentemente se eivam inaptos para a edificação da saúde
mental de quem com eles possui vínculos ou contatos.
Vínculos e contatos podem sim ser desfeitos. E não há nada
de errado com isso, pois cada pessoa pode e deve estabelecer para si
relacionamentos saudáveis e construtivos, a partir da observação crítica das
personalidades próximas. Aquilo que é de verdade é forte e inabalável: um
amigo, um familiar ou parente próximo ou distante. Aquilo que é espúrio se
desmancha no ar, ao contrário do que diz Marshall Berman sobre a solidez social
que se desfez historicamente, quando lembramos da sua obra que critica os
estragos comportamentais e individuais advindos com a modernidade.
Enfim, a política fica e deve ficar. Não podemos dizer o
mesmo daqueles que não nos proporcionam bons estados fisiológicos. Quem passem
e passem bem longe. Onde a vista não alcança.
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